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Entrevista: Fernando Westphal fala sobre o livro “Vidro Plano para Edificações”

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Livro
"Vidro Plano para Edificações"

O Vidro Certo conversou com o professor Fernando Westphal sobre o livro “Vidro plano para edificações”, que foi lançado pela editora Oficina de Textos.

por:

Portal Vidro Certo

Tempo de leitura: 8 minutos

Temos certeza de que esse trabalho será muito útil para todos os envolvidos em processos construtivos, principalmente arquitetos, engenheiros, especificadores, vidraceiros e projetistas. O Vidro Certo não poderia ficar de fora!

Abaixo, você pode conferir os principais pontos desse bate-papo, em que o autor relata os maiores desafios e os principais aprendizados que obteve ao longo do processo, além de valiosas dicas para profissionais da área.

Professor, recebemos com grande satisfação a notícia sobre o lançamento do seu livro. É, sem dúvida, uma obra significativa para o setor. O interesse em publicá-lo teve uma motivação especial? O senhor é professor nessa área há bastante tempo. Por que lançar essa obra agora?

“A motivação principal foi o fato de não existir publicações nacionais tratando dos aspectos técnicos e das propriedades físicas do vidro plano e suas aplicações em edificações. Sou professor nessa área há 12 anos, mas trabalho com pesquisa e consultoria há mais de 20 anos, e percebi que existe uma carência de bibliografia sobre o assunto. O que encontramos são catálogos dos fabricantes de vidros, que embora tenham um conteúdo rico sobre o assunto, sempre possuem uma tendência de mercado que eu gostaria de evitar em uma publicação isenta.

Quais os principais desafios que os profissionais da área de construção civil encontram na execução de bons projetos com fachadas de vidro no Brasil? E no que se refere a uso interno, como divisórias, guarda-peitos, tetos e outros?

“Ainda existe pouca difusão de informação técnica acerca das propriedades dos vidros de alto desempenho e muitos projetistas desconhecem o potencial de economia de energia com produtos de controle solar e vidros insulados. Há muito preconceito quanto ao uso de fachadas envidraçadas em climas quentes, mas os estudos indicam que é possível projetar uma edificação com alto grau de transparência, eficiência energética e conforto, desde que se utilize os produtos adequados. Nos últimos anos, houve uma disseminação de projetos de edifícios corporativos no Brasil com fachadas em pele de vidro, e que receberam certificações ambientais de desempenho, comprovando que é possível adotar esse partido arquitetônico com alta eficiência energética. O livro dá ênfase nos critérios de desempenho térmico, acústico e lumínico do vidro, e resume os requisitos que norteiam a especificação dos vidros para fachadas para o alcance de alta eficiência.  

Curiosamente, para as aplicações internas o vidro é bem aceito e tem substituído os materiais convencionais. Entretanto, também existe uma carência de formação técnica mais aprofundada em toda a cadeia videira, pois ainda é comum a verificação de instalações fora dos padrões normativos de segurança. “

É notório que o uso do vidro nas fachadas de edificações vem crescendo no País, em especial nos edifícios nos grandes centros urbanos. A que o senhor atribui esse crescimento?

“Existe um desejo natural das pessoas por edificações mais integradas ao ambiente externo. Estudos científicos comprovam a preferência das pessoas em trabalhar e viver em ambientes com maior área de janela e maior integração visual com o exterior. Vale ressaltar que o prêmio Nobel de medicina de 2017 foi concedido aos três pesquisadores que desvendaram o mecanismo do ciclo circadiano dos seres vivos. Para termos uma vida saudável precisamos estar sujeitos aos ciclos naturais de variação entre dia e noite, por isso é importante nosso contato com o ambiente externo. Esse contato evita problemas de saúde comuns da vida moderna, como hipertensão e depressão.  

Mas não é apenas pela transparência e efeito estético que o vidro tem sido escolhido como material de fechamento das fachadas. O vidro demanda baixo custo de manutenção, pois requer apenas limpeza periódica, mas são raros os casos de necessidade de reposição ou deterioração, comum a outros materiais de revestimento de fachadas. Além disso, a execução de fachadas em pele de vidro é mais limpa e rápida, agilizando a entrega das obras. Esse efeito econômico nos empreendimentos é de extrema importância. É um dos poucos materiais que permite a industrialização das fachadas, com agilidade, baixo desperdício e baixo custo de manutenção.” 

Os usuários desses edifícios sabem os benefícios que o vidro pode trazer à vida deles e ao meio ambiente? 

Isso é difícil de afirmar com certeza. Mas por experiência própria, por vivência, verifico que profissionais da área da construção civil e estudantes dos cursos de graduação em arquitetura e engenharia têm pouco conhecimento sobre os potenciais do vidro nas edificações. O consumidor final, menos ainda. Essa lacuna precisa ser preenchida e é importante que o setor produtivo atue neste sentido, de disseminação de conteúdo junto ao público em geral.

O senhor considera que já há um uso mais consciente dos variados tipos de vidro para fachadas, como os de controle térmico e isolamento acústico? Ainda há muita desinformação por parte dos profissionais? Como seria possível corrigir essa deficiência?

“Em países desenvolvidos esse conhecimento está consolidado. No Brasil, o uso de vidros de alto desempenho ainda é restrito às grandes obras ou àquelas de alto padrão. Ainda existe, de fato, uma carência de formação qualificada entre os especificadores, ou seja, os arquitetos. Estamos trabalhando para corrigir essa deficiência por meio de divulgação de material técnico e palestras.

O livro é uma das ações neste sentido e por isso recebeu o apoio da ABIVIDRO. Mas acredito que uma atuação mais efetiva deve ser promovida junto às universidades, como a criação de disciplina específica sobre o vidro plano nos cursos de arquitetura e urbanismo e engenharia civil. Geralmente esses cursos trazem disciplinas voltadas à aplicação do concreto armado, estruturas de aço e madeira, que consistem na cultura de construção brasileira. Mas percebo que atenção desproporcional é dada ao vidro e às esquadrias, que correspondem a itens importantes de influência no conforto ambiental interno das edificações e consequente impacto no consumo de energia.”

De acordo com seus estudos, o uso correto do vidro de controle térmico pode reduzir em quanto o consumo de energia em um apartamento localizado em São Paulo, por exemplo?

“É difícil de generalizar, mas dependendo da planta, orientação solar e uso do apartamento, em São Paulo pode-se chegar a economia da ordem 20% do uso de energia em climatização quando se utiliza um vidro de controle solar em vez de vidro incolor comum.

É possível dizer que o Brasil está caminhando para o correto uso de vidro em fachadas, com especificações adequadas para obter bons resultados? Onde estão os maiores gargalos para a especificação correta do material? Em que fase do processo construtivo?

“Sim. O Brasil está no caminho certo. E isso ocorre em parte devido a proliferação da certificação LEED. São quase 1000 empreendimentos certificados no país. Não posso afirmar com certeza, mas arrisco dizer que todos eles possuem vidros de controle solar. Todos os fabricantes de vidro utilizam como exemplos para divulgar seus produtos de controle solar algum prédio certificado LEED. Eu enxergo um obstáculo maior na proliferação dos vidros de alto desempenho nos edifícios residenciais, que ainda utilizam vidros incolores em sua maioria. Nessas situações, acho que o gargalo está no fornecedor das esquadrias, que no geral desconhece os benefícios dos vidros de controle solar e dá uma atenção maior aos benefícios do seu produto, ou seja, no perfil e no sistema de esquadria.”

A utilização de vidros especiais nas fachadas deixa o projeto mais caro? Ou o eventual acréscimo do valor é compensado com economia de energia e outros benefícios?

“Sim. O projeto fica mais caro quando se utiliza vidro de controle solar, comparado ao vidro incolor. Mas se avaliarmos o benefício obtido em economia de energia, também em relação ao vidro incolor, na maioria das situações o investimento se paga em menos de 2 anos, apenas com economia de energia em ar-condicionado. Dependendo do clima, essa economia é imediata, apenas com a redução da capacidade instalada em ar-condicionado.”

Pode citar exemplos de projetos bem executados, ou seja, aqueles em que o vidro foi usado de forma correta tirando vantagem dos benefícios que o material apresenta – seja de construção ou mudança para fachadas vidro?

“O Edifício Multiplan Morumbi Corporate, Torres Gold e Diamond, em São Paulo, que tiveram os vidros de fachada especificados por meio de simulação computacional durante a fase de concepção de projeto, resultando em um empreendimento de alto padrão, com certificação LEED Gold.  

Outro exemplo, com desempenho exemplar, é o Edifício Vera Cruz II, também em São Paulo, na Faria Lima, que teve toda a concepção de fachada também avaliada por simulação computacional. Neste projeto, nós conduzimos a avaliação de mais de 20 especificações de vidros de controle solar e insulados, estudando o impacto na carga térmica e aproveitamento da luz natural. O vidro utilizado foi um insulado, com o objetivo principal de se alcançar melhores condições de conforto térmico interno.”

Por fim, que dica daria para o profissional que pretende executar uma obra com vidro para que alcance bons resultados? 

“Para edifícios comerciais no Brasil, comece pesquisando por especificações de vidro com fator solar abaixo de 0,40 e transmissão luminosa em torno de 40%. Isso para projetos que tenham área de janela entre 40% e 50% da fachada. O ideal é utilizar vidros com reflexão luminosa abaixo de 20%, para evitar a reflexão excessiva, tanto externa, quanto internamente. Por fim, estude sobre as propriedades ópticas dos vidros para entender o porquê dessas recomendações. O livro pode ser um ótimo ponto de partida! “

por:

Portal Vidro Certo

CONHEÇA O AUTOR

Fernando Simon Westphal é engenheiro civil formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde também desenvolveu seu mestrado e doutorado com ênfase em eficiência energética em edificações. É professor nos cursos de graduação e pós-graduação em arquitetura e urbanismo na UFSC e atua como consultor em projetos de edificações de alto desempenho no Brasil. 

Se ficou interessado em conferir o trabalho do professor Fernando Westphal, o livro está disponível clicando no botão abaixo.

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Arquitetura Museus pelo Mundo

Museu do Louvre, Paris-França

Série: Museus pelo Mundo

Museu do Louvre, Paris - França

por:

Flávia Baldini

Tempo de leitura: 7 minutos

Referência internacional tanto pela sua importante coleção de obras de arte como pela sua impressionante arquitetura, o Museu do Louvre possui dimensões monumentais e atrai milhares de visitantes todos os anos para visitar suas galerias e exposições diversas.

A controversa renovação do Museu do Louvre, juntamente com as diversas obras inovadoras e modernas de construções e renovações arquitetônicas da “Grande Operações de Arquitetura e Urbanismo” – como ficaram popularmente conhecidas as obras executadas naquele período – também foi idealizada pelo então presidente francês François Mitterrand que, em 1983, convidou o arquiteto sino-americano Ieoh Ming Pei para assumir o projeto de modernização do museu.

Pei tinha pela frente um grande desafio, resolver os problemas de acesso ao museu, criar novas áreas de apoio, ampliar o espaço de exposições disponível e criar uma integração que melhorasse a experiência dos visitantes no espaço. Além desse escopo, o projeto deveria alinhar toda a arquitetura medieval, renascentista, barroca e clássica do Louvre com um projeto moderno e de alta tecnologia.

A proposta de Pei foi criar uma nova entrada no Cour Napoléon marcada por uma grande pirâmide de vidro que impactasse o visitante no momento da chegada e fornecesse iluminação para todo o espaço subterrâneo que abrigaria além da recepção, áreas de apoio e galerias de acesso aos prédios do complexo – função essa exercida também pelas outras três pirâmides menores de vidro que circundam a pirâmide maior e compõe esta parte do projeto.

Inspirada nas proporções da Pirâmide de Quéops, mas em menor escala, a Pirâmide de Vidro do Louvre faz referência aos grandes construtores da história, ao mesmo tempo que representa o desenvolvimento de novas técnicas e materiais construtivos ao longo dos anos, trazendo uma grande estrutura de aço, alumínio e vidro.

Foram despendidos meses de pesquisa para o desenvolvimento de um vidro específico que atendesse as particularidades deste projeto, que exigia a redução dos óxidos de ferro e também da incidência da cor verde na transparência das chapas, resultando em um vidro extra claro para a obra. A fabricação destas chapas de vidro ficou sob responsabilidade da empresa francesa Saint-Gobain, que construiu um novo e moderno forno especialmente para este fim.

O vidro diamante, como foi nomeado pela Saint Gobain, trazia excelentes propriedades mecânicas, perfeita qualidade ótica e transparência igual à lentes de óculos. Se tratava de um vidro laminado extra claro com 21,52mm de espessura total, composto por duas chapas de vidro com quatro filmes de polivinil butiral para atender a especificação de um vidro de segurança necessário para a aplicação a qual se destinava.

Totalizando uma superfície de aproximadamente 1.800m2, a Grande Pirâmide do Louvre possui 673 placas de vidro, sendo 603 losangos – 2,9 x 1,9 m – e 70 triângulos equiláteros – base de 1,9m – e, se considerarmos as três pirâmides menores de vidro que compõe esta parte do projeto, o total de placas de vidro chega a 793, formando uma complexa configuração estrutural.

“Formalmente, é o mais compatível com a arquitetura do Louvre (…), é também uma das formas estruturalmente mais estáveis, garantindo sua transparência, uma vez que é construída de vidro e aço, significando uma ruptura com tradições arquitetônicas do passado. É um trabalho do nosso tempo.”
—I.M. Pei

Posteriormente, em 1993, foi inaugurada a segunda fase do projeto do Grande Louvre, um centro comercial subterrâneo construído em frente ao museu onde se encontra a quinta pirâmide de vidro do complexo, La Pyramide Inversée, ou Pirâmide Invertida.

Invisível vista do lado de fora, a Pirâmide Invertida é uma claraboia com uma estrutura de aço inoxidável e vidro laminado que, além da função de iluminação, marca a interseção das duas principais passagens de entrada para o museu. Com sua ponta suspensa 1,4m acima do nível do piso, a pirâmide faz contraponto à uma pirâmide menor em pedra posicionada logo abaixo dela e quase se tocam.

Em 1995 o projeto foi finalista do Prêmio Benedictus sendo descrito pelo júri como “uma notável anti-estrutura… um uso simbólico da tecnologia… uma peça de escultura. A pirâmide foi concebida como um objeto, mas é um objeto para transmitir luz.”

por:

Flávia

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